O Papel da Oração na Guerra Espiritual

Ao falar de oração, chamo sua atenção sobretudo para os meios de elevar a oração ao nível ao qual ela pertence. Pode parecer estranho para você que, já que estamos falando de guerra invisível, e você deseja saber de que maneira a oração pode ajudar nisso, tudo o que você ouviu foi como fazer da oração uma oração real.

O Papel da Oração na Guerra Espiritual

Não se surpreenda, pois a oração pode se tornar uma arma vitoriosa na guerra invisível somente quando se tornar real, isto é, quando se enraizar no coração e ali começar a agir incessantemente. A partir desse momento, torna-se uma barreira impenetrável, invencível e insuperável, protegendo a alma das flechas do inimigo, dos assaltos apaixonados da carne e das tentações do mundo com suas ilusórias delícias. Sua presença no coração interrompe a guerra invisível. É por isso que você foi aconselhado a se apressar e transferir a oração para o interior de seu coração, e ver que ela deve permanecer em movimento incessante. Pois isto é o mesmo que dizer: faça isso e você conquistará, mesmo sem luta.

E de fato é assim que acontece. Mas até que sua oração alcance tal poder, os inimigos não lhe darão paz e você não terá nenhum momento de descanso da guerra ou ameaça de guerra. A oração ajuda nesse estágio? Seguramente: e mais do que qualquer outra arma da guerra espiritual. A oração sempre atrai a ajuda Divina, e o poder de Deus repele os inimigos, desde que seja praticado com zelo e rendição à vontade de Deus. Seu lugar está na vanguarda da resistência aos ataques inimigos. É assim que as coisas ocorrem. Quando, como uma sentinela atenta, a atenção soa o alarme sobre o inimigo que se aproxima, e as flechas inimigas começam a ser sentidas, ou seja de um pensamento apaixonado ou da agitação de paixões internas, o espírito, inflamado com o zelo pela salvação, reconhece o mau propósito do inimigo, e, forçando seus poderes até o limite, expulsa-os do coração, sem misericórdia, não permitindo que nele penetrem. No mesmo momento, em uma ação interior una com a anterior, ascende a Deus em oração, clamando por Seu auxílio. O auxílio chega, os inimigos são dispersos, e a batalha se ameniza.

São João de Kolov descreve isso exatamente, dizendo de si mesmo:

"Eu sou como um homem sentado sob uma grande árvore, que vê uma multidão de bestas e serpentes avançando em sua direção. Ele não pode resistir a eles, então sobe na árvore e fica seguro. É o mesmo comigo: sento em minha cela e vejo os maus pensamentos se erguendo contra mim; como não sou forte o bastante para resistir a eles, corro para Deus por meio da oração e, assim, me salvo do inimigo'' 

Santo Hesíquio escreve nas mesmas linhas em seus capítulos sobre oração e sobriedade:

"Você deve olhar para dentro de si com um olhar aguçado e intenso da mente, de modo a perceber aqueles que entram, e quando você os perceber, você deve resistir e esmagar imediatamente a cabeça da serpente, e ao mesmo tempo clamar a Cristo com gemidos. E então você ganhará a experiência da invisível intercessão Divina" 

e

"Toda vez que pensamentos maus se multipliquem em nós, lançemos contra eles a invocação de nosso Senhor Jesus Cristo; e imediatamente os veremos dispersos como fumaça no ar, como ensina a experiência"

Novamente:

"Vamos conduzir essa guerra mental na seguinte ordem: A primeira coisa é a atenção; então, quando notamos um mau pensamento se aproximar, vamos lançar uma crítica sincera nele.  Em terceiro lugar vem a mudança do coração pela invocação de Jesus Cristo e pela oração que pede para que Ele elimine imediatamente estes demônios internos que buscam que a mente seja atraída por estas fantasias como a criança é atraída por um hábil malabarista'' 

e

"A oposição geralmente impede o progresso adicional dos pensamentos, e a invocação do nome de Jesus Cristo os expulsa do coração. Tão logo a sugestão se forma na alma pela imagem de algum objeto físico -- uma certa pessoa que tenha nos feito mal, ou uma mulher bonita, ou prata e ouro, -- ou quando os pensamentos destas coisas vêm a nós, torna-se imediatamente claro que aquelas fantasias são trazidas ao nosso coração pelos defeitos das más intenções, luxúria e avareza. Se nossa mente é experiente, treinada e acostumada a se proteger destas sugestões e perceber claramente, como pela luz do dia, as fantasias sedutoras e armadilhas do inimigo, então resistindo, se contrapondo e orando a Jesus Cristo, imediata e facilmente repele os quentes e vermelhos dardos do inimigo interior. Não permitamos que as fantasias apaixonadas aliciem nossos pensamentos, e proíbamos que estes se associem ao que foi sugerido ou confraternizem e permitam que se multipliquem ou que se identifiquem com elas, pois os maus atos se seguem de tudo isto tão inevitavelmente quanto a noite se segue ao dia''


Você encontrará em Santo Hesíquio muitas passagens similares, e verá que ele dá um esboço completo de toda a nossa guerra invisível. Por isso, aconselho-o a ler sempre que possível os seus capítulos sobre sobriedade e oração.

Trecho do livro "Unseen Warfare" (Guerra Invisível), de São Teófano, o Recluso