O Segredo da Salvação Revelado pela Oração Perpétua
(...) Ele então se dedica a estudar a oração; ele lê, medita, e estuda os ensinamentos daqueles que escreveram a respeito. Na verdade, ele encontra ali muitos pensamentos luminosos, profundos conhecimentos e palavras cheias de poder. Um trata magnificamente da necessidade da oração, outro escreve sobre seu poder, seu efeito benéfico, outro ainda sobre a oração enquanto dever, outro sobre o zelo que ela exige, ou ainda sobre a atenção, o calor no coração, a pureza de espírito, a reconciliação com os inimigos, a humildade, a contrição e outras condições necessárias.
Mas o que é a oração em si? Como se faz para realmente orar?
É muito raro encontrar para estas questões primordiais e urgentíssimas uma resposta precisa que qualquer um possa entender, de tal maneira que quem se questiona ardentemente sobre a oração ainda é deixado diante de um véu de mistério. Tudo o que ele leu, em geral, só lhe permite conhecer um lado da oração que, embora piedoso, permanece exterior, e ele acaba por concluir que a prece consiste em ir à igreja, persignar-se, inclinar-se, prosternar-se, ler os salmos, os cânones e os hinos acatistas. Esta é a ideia que fazem da oração todos os que não conhecem os textos dos santos Padres sobre a oração interior e a ação contemplativa.
Ao cabo de tudo isso, nosso pesquisador um dia encontra um livro que se chama Filocalia, no qual vinte e cinco Padres expõem, numa forma acessível, o conhecimento científico da verdade e a essência da oração do coração. Então começa a erguer-se o véu que encobria o segredo da salvação e da prece.
Ele vê que na realidade orar significa dirigir sem trégua seu pensamento e sua atenção à lembrança de Deus, caminhar em sua presença, despertar em si seu amor pensando nele, associando o nome de Deus à sua respiração e às batidas de seu coração.
Ele é guiado em tudo isso pela invocação com os lábios do santíssimo nome de Jesus Cristo, ou pela recitação da Oração de Jesus todo o tempo e em todo o lugar, durante todas as suas ocupações e sem nunca parar. Estas verdades luminosas, aclarando o espírito do nosso pesquisador e abrindo-lhe o caminho do estudo e do cumprimento da oração, ajudam-no a começar a praticar em seguida estes sábios ensinamentos. Entretanto, em suas primeiras tentativas, ele ainda fica às voltas com muitas dificuldades até que um mestre experiente lhe mostre (neste mesmo livro, a Filocalia) toda a verdade - ou seja, que somente a oração ininterrupta é eficaz, tanto para perfazer a oração interior como para a salvação da alma. É a frequência da oração que fundamenta todo o método da atividade salvadora. Como diz Simeão o Novo Teólogo: “Aquele que ora sem cessar faz a síntese de todo o bem numa única coisa.” E para expor esta verdade em toda a sua plenitude, o mestre a desenvolveu do seguinte modo:
Para a salvação da alma, a verdadeira fé é antes de tudo necessária. A sagrada Escritura diz: “Sem a fé, é impossível agradar a Deus.” Quem não tem fé será julgado. Mas, nas mesmas Escrituras, vemos também que o homem não pode sozinho fazer nascer a fé em si, mesmo pequena, ainda menor do que um grão de mostarda; que a fé não vem de nós, mas que ela é um dom de Deus; e que a fé é um dom espiritual. Ela é dada pelo Espírito Santo. Se é assim, o que é preciso fazer? Como conciliar a necessidade de fé do homem com a impossibilidade de provocá-la humanamente? O modo de fazê-lo é revelado ainda nas mesmas Escrituras: “Pedi, e se vos dará.” Os Apóstolos não podiam por si sós suscitar neles a perfeição da fé, mas eles oraram a Jesus Cristo, dizendo: “Senhor, aumente a nossa fé”. Eis como se obtém a fé; este exemplo mostra como se alcança a fé pela oração.
Para a salvação da alma, ao lado da verdadeira fé, também são necessárias as boas obras, pois “a fé sem as obras é morta”. O homem será julgado por suas obras e não apenas por sua fé. “Se você quiser entrar na vida, observe os mandamentos; não mate; não cometa adultério; não roube; não preste falso testemunho; honre pai e mãe; ame seu próximo como a si mesmo”. E observe todos os mandamentos, pois “aquele que observar a Lei mas transgredir um só mandamento é culpado de todos.” É o que ensina o apóstolo Tiago. E o apóstolo Paulo, descrevendo a fraqueza humana, diz: “Nenhuma carne será justificada pelas obras da Lei.” “Pois sabemos que a Lei é espiritual; mas eu sou carnal, sujeito ao pecado... Pois a vontade está em mim, mas eu não encontro como fazer o que é bom... E o mal que eu não queria fazer, eu faço... Pelo pensamento, eu me submeto à Lei de Deus; mas, pela carne, à lei do pecado.”
Como cumprir as obras prescritas pela Lei de Deus, quando não se tem forças nem nenhum poder de observar os mandamentos? É impossível fazê-lo, até que se peça, até que se ore para obtê-los. “Vocês não têm porque não pedem”; esta é a razão que nos apresenta o Apóstolo. E o próprio Cristo diz: “Sem mim vocês não podem nada.” E, quanto a agir com Ele, eis o que Ele nos diz a respeito: “Permaneçam comigo como eu permaneço com vocês; aquele que permanecer em mim e eu nele, este obterá os frutos da abundância.” Mas permanecer com ele implica sentir continuamente sua presença, invocar continuamente seu nome. “Tudo aquilo que pedirem em meu nome eu lhes darei.” Assim a própria possibilidade de fazer o bem é dada pela oração. Encontramos um exemplo disto no Apóstolo Paulo: três vezes ele orou para vencer a tentação, dobrando o joelho diante de Deus Pai para que fortalecesse nele o homem interior, e foi-lhe ordenado acima de tudo orar, e orar de modo contínuo, a propósito de tudo.
Do que dissemos, segue-se que toda a salvação do homem depende da oração, e é por isso que ela é primordial e necessária, pois é através dela que a fé é vivificada e que as boas obras aparecem. Numa palavra, com a oração tudo caminha com sucesso; sem a oração, não se pode fazer nenhum ato de caridade cristã. Assim a exigência de que nossa vida seja sem cessar, sempre e em toda parte, oferecida, provém exclusivamente da oração. Para as demais virtudes, cada qual tem seu próprio tempo; mas no caso da oração, nos é pedida uma ação ininterrupta: “Orai sem cessar”. É justo e oportuno orar sempre, e em qualquer lugar.
A verdadeira oração tem suas condições. Ela deve ser oferecida com um espírito e um coração puros, com um zelo ardente, uma atenção estrita, com temor e respeito, e com a mais profunda humildade. Mas quem, em consciência, não admitirá que está longe de preencher estas condições, e que oferece suas orações mais por necessidade, mais por obrigação para consigo mesmo, do que por inclinação, deleite e amor à oração? A este respeito, a sagrada Escritura diz que não está no poder do homem manter seu espírito inquebrantável e purificar-se dos maus pensamentos, pois “os pensamentos do homem são maus desde a juventude”, e porque só Deus pode nos dar outro coração e um espírito novo, pois “o poder de fazê-lo está apenas em Deus.” O apóstolo Paulo diz: “Meu espírito (ou seja, minha voz) está em oração, mas minha inteligência permanece estéril.” “Nós não sabemos o que pedir em nossas orações.”, afirma ainda. Resulta daí que somos incapazes, por nós mesmos, de oferecer a verdadeira prece: em nossas orações, não conseguimos manifestar as propriedades essenciais da verdadeira prece.
Se tamanha é a impotência do ser humano, que possibilidades restam ainda à vontade e à força do homem para a salvação da alma? O homem não pode adquirir a fé sem a oração; isto também se aplica às boas obras. Mas a verdadeira oração em si não está ao seu alcance. Que lhe resta fazer? Quanto lhe sobra ainda ao exercício da liberdade e da força, para que ele possa não perecer, mas ser salvo?
Cada ação possui sua qualidade, e esta qualidade só quem é livre para atribuir é Deus. Para que a dependência do homem diante de Deus, da vontade de Deus, se manifeste mais claramente, e para poder mergulhá-lo mais profundamente na humildade, Deus só atribuiu à vontade e à força do homem a quantidade da oração. Ele ordenou orar sem cessar, sempre, em todos os momentos e em todos os lugares. É aí que se acha revelado o método secreto da verdadeira oração, ao mesmo tempo da fé e do cumprimento dos mandamentos de Deus. É portanto a quantidade das orações que está assinalada ao homem; a frequência da prece lhe pertence e se acha sob o domínio da sua vontade. Este é o ensinamento dos Padres da Igreja. São Macário o Grande diz que em verdade orar é o dom da graça. Santo Eznik diz que a prece frequente torna-se um hábito, depois uma segunda natureza, e que, sem invocar frequentemente o nome de Jesus Cristo é impossível purificar o coração. Calixto e Inácio aconselham a invocação frequente, contínua, do nome de Jesus, acima de todas as asceses e obras, pois a frequência conduz a oração imperfeita à perfeição. O bem-aventurado Diádoco afirma que se um homem invoca o nome de Deus tantas vezes quanto possível, ele não cairá no pecado.
Quanta experiência e sabedoria existem aí, e como essas instruções dos Padres estão próximas do coração! Com sua experiência e simplicidade, eles lançam uma luz sobre os meios de conduzir a alma à perfeição. E que contraste com as instruções morais da razão teórica! Assim fala a razão: faça tais e tais boas ações, arme-se de coragem, empregue sua força de vontade, convença a si próprio pensando nos felizes frutos da virtude – por exemplo, purifique seu espírito e seu coração das ilusões do mundo, substitua-as por meditações instrutivas, faça o bem, assim vocês serão respeitados e encontrarão a paz; vivam segundo a razão e a consciência. Mas, vejam! Apesar de toda a sua força, este raciocínio não alcançará seu objetivo sem a oração frequente, sem invocar a ajuda de Deus.
Vamos agora a outros ensinamentos dos Padres, e veremos o que eles dizem, por exemplo, sobre a purificação da alma. São João Clímaco escreve: “Quando o espírito está ensombrecido por pensamentos impuros, afugente o inimigo repetindo inúmeras e ininterruptas vezes o nome de Jesus. Você não encontrará nos céus nem na terra arma mais poderosa e eficaz do que esta.” São Gregório o Sinaíta nos ensina: “Saibam que ninguém pode por si só dominar seu espírito, e assim, quando surgirem os maus pensamentos, invoquem o nome de Jesus muitas e ininterruptas vezes, e os pensamentos se apaziguarão.” Que método simples e fácil! E no entanto ele é verificável pela experiência. Que contraste com os conselhos da razão teórica que se esforça com presunção em atingir a pureza por seus próprios esforços!
Uma vez anotadas essas instruções fundamentadas sobre a experiência dos Padres, chegamos a uma conclusão sólida: que o principal, o único e o mais simples método para atingir a salvação e a perfeição espiritual é a frequência e o caráter ininterrupto da oração, por fraca que seja. Alma cristã, se você não encontra em si mesma o poder de adorar a Deus em espírito e em verdade, se seu coração não sente o calor e a doce satisfação da oração interior, então aplique-se ao sacrifício da oração o quanto você puder, porque isto só depende da sua vontade, e está dentro dos limites do seu poder. Familiarize, antes de mais nada, o humilde instrumento dos seus lábios com a invocação frequente e persistente da oração. Que eles invoquem o nome de Jesus sempre e sem interrupção; não é um grande trabalho e está dentro dos limites do poder de cada um. E é também o que vai ao encontro do preceito do santo Apóstolo: “Por ele, ofereçamos sem cessar um sacrifício de louvor a Deus, ou seja o fruto dos meus lábios que celebram seu nome.”
É certo que a frequência da prece forma um hábito e se torna uma segunda natureza. Ela traz, de tempos em tempos, o espírito e o coração a um estado apaziguado. Suponhamos que um homem cumpra sem parar e continuamente o único mandamento de Deus sobre a prece perpétua. Por isso mesmo, ele terá cumprido com todos os outros mandamentos; de fato, se, sem interrupção, em todo o tempo e em todas as circunstâncias, ele oferecer a oração, invocando em segredo o santíssimo nome de Jesus (mesmo que de início ele o faça sem ardor espiritual, nem zelo, e mesmo forçadamente), ele não terá tempo para pensamentos vãos, para julgar a seu próximo, para desperdiçar seu tempo nos prazeres do sentidos. Todo mau pensamento encontrará nele um obstáculo ao seu desenvolvimento. Todo o ato culpável que o possa tentar não se realizará, como se ele houvesse abandonado o espírito. O excesso de palavras e as palavras inúteis serão rejeitadas e todas as faltas imediatamente varridas da alma pelo poder misericordioso de uma invocação tão continuada do nome divino. A prática frequente da oração o impedirá de praticar qualquer ação culpável e o lembrará de sua vocação original: a união com Deus.
Veem agora a importância e a necessidade da quantidade da oração? A frequência da oração é o único método para se chegar à oração pura e verdadeira. É a melhor e mais eficaz preparação para a oração, e o meio mais seguro de atingir o objetivo da oração e a própria salvação.
Para convencê-los definitivamente da necessidade e da fecundidade da oração frequente, notem que todo o desejo e todo o pensamento de oração é obra do Espírito Santo, e a voz do anjo guardião; e que o nome de Jesus invocado na oração contém em si mesmo um poder salvador que existe e age por si mesmo.
Assim, não fiquem perturbados com a imperfeição ou a secura nas suas orações, e esperem com paciência o fruto da invocação frequente do nome divino.
Não escutem as insinuações daqueles que são inexperientes ou insensatos, segundo os quais a invocação morna é uma repetição inútil, para não dizer enjoativa. Não: o poder do nome divino e sua invocação frequente trarão o fruto a seu tempo.
Um autor espiritual falou magnificamente sobre isto: “Eu sei, disse ele, que para muitos pretensos espirituais e sábios filósofos, que procuram em toda parte a falsa grandeza e as práticas sedutoras através da razão e do orgulho, o simples exercício vocal mas frequente de uma oração parece ter pouco significado, parece não passar de uma ocupação inferior, quase uma criancice. Mas estes infelizes enganam-se e esquecem o ensinamento de Jesus Cristo: “Se vocês não se converterem e não se tornarem como criancinhas, vocês não entrarão no Reino dos Céus.” Eles elaboram por si mesmos uma ciência da oração sobre as fundações instáveis da razão natural. Será que precisamos de tanta erudição, ciência e reflexão para dizermos com um coração fervente: Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim? Não foi nosso divino Mestre em pessoa quem mais louvou esta oração frequente? Não foram recebidas respostas magníficas e cumpridas magníficas obras apenas por meio desta curta mas frequente oração?
Alma cristã, afirme sua coragem, e não abandone a incessante invocação de sua prece, mesmo que seu grito venha de um coração ainda em guerra consigo mesmo e ainda meio preenchido pelo mundo. Pouco importa! Persevere, não se deixe reduzir ao silêncio e não se perturbe. Sua prece irá purificar-se sozinha pela simples repetição.
Que sua memória não esqueça o seguinte: “Aquele que está em vós é maior do que aquele que está no mundo.” “Deus é maior que o nosso coração, e conhece todas as coisas”, diz o Apóstolo.
Depois dessas afirmações convincentes de que a oração, tão poderosa para a fraqueza humana, é certamente acessível ao homem e depende de sua própria vontade, decida-se, experimente, nem que seja por um único dia, de início. Vigie-se e torne a frequência da prece tal que mais tempo você passe, das vinte e quatro horas do dia, ocupado com a invocação do nome de Jesus do que com todas as demais ocupações. E este triunfo da prece sobre as ocupações mundanas mostrará, a seu tempo, que a jornada não foi perdida, mas ganha para a salvação; que a oração frequente, na balança do julgamento divino, fará contrapeso à sua fraqueza e às suas más ações, e apagará os pecados desta jornada do memorial de sua consciência. Que ela coloque seu pé sobre o degrau da virtude e lhe dê a esperança da santificação.
Relatos Inéditos de um Peregrino Russo